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Sobre o Choro (por Danilo Brito)

By Produção

O que é o Choro

O Choro é autêntica música brasileira.

Tipicamente instrumental, trata-se de um gênero muito sofisticado e único, que combina elementos complexos da música erudita: melodia rica, estrutura fixa, harmonia modulada, contrapontos; com elementos espontâneos da música popular, como a improvisação, a interpretação emocionada, o humor, o ritmo sincopado.Todos esses elementos, desde a origem, foram combinados de uma forma muito brasileira, com técnicas otimizadas para extrair da música todo o potencial de emoção; e transformou o Choro em um gênero que não encontra par em qualquer outro do mundo.Ele é a base, e a origem, de um amplo espectro de ritmos brasileiros: samba, baião, forró, marcha, valsa brasileira, polca brasileira, tango brasileiro, schottisch brasileira, entre outros.

A riqueza dessa arte é tal que vem atraindo não só novos ouvintes como também grandes intérpretes, do Brasil e de todo o mundo, interessados em tocar nossa música.

A execução dessa música, devido à dificuldade técnica, representa um desafio ao músico e seus grandes intérpretes são reconhecidos por sua virtuosidade.

O Choro tem hoje, já, uma belíssima história, ainda que relativamente curta se comparada, por exemplo, à história musical européia; mas em termos de qualidade é igualmente forte: são muitos os compositores, composições e intérpretes do mais alto nível que fazem parte do acervo brasileiro.

E essa história só cresce.

A riqueza de recursos musicais permite que o compositor e o intérprete criativo aumentem esse acervo, com características e estilo próprio, construindo uma arte bela, universalmente comunicativa e tipicamente brasileira.

O Choro, como qualquer gênero musical, sofreu e sofre influências da criação artística de outras partes do mundo pois, afinal, a música é una; no entanto, para que uma música seja considerada choro ela deve apresentar algumas características que mantenham sua brasilidade, sem qualquer prejuízo para a originalidade ou para o universalismo de sua comunicação.

Nas composições, essas características podem ser detectadas na melodia, no ritmo, no arranjo, nos contrapontos, no formato do conjunto.

Na execução, o intérprete de choro também tem algumas caraterísticas típicas de virtuosismo e de improvisação.

O meu objetivo, como compositor e intérprete, é ser original, sendo autenticamente brasileiro e acima de tudo, transmitir emoção pela música.

 

O Choro para novos ouvintes

Ainda que seja importante conhecer a história do choro, saber de suas peculiaridades, seus compositores e virtuoses intérpretes, nada substitui sua audição e nenhum conhecimento prévio é necessário para ouví-lo.

Ouvir as diversas composições, e seus variados intérpretes é a forma de realização da arte da música, é como ela impacta os sentidos.

O choro engloba uma enorme diversidade de ritmos brasileiros, pode ser festivo, melancólico, romântico, de andamento muito rápido ao muito lento.

É uma música tão profundamente comunicativa que atinge pessoas de todas as idades, das mais diversas origens sociais e de todos os lugares do planeta.

É o que tenho visto, com satisfação, em minhas apresentações.

O choro pode ser apreciado nas mais diversas ocasiões, por novos ou antigos fãs, que, como eu, sempre se deparam com algo novo e mais bonito, ainda que feito dezenas de anos atrás.

 

Onde se encontra Choro

O Choro começou sendo tocado por instrumentistas em reuniões informais. Nessa época,  a difusão para o público se dava principalmente pela venda de partituras. As composições eram executadas, ao vivo, em teatros, em bailes, em cinemas.

Com a possibilidade do registro de áudio, as músicas passaram a ser gravadas e comercializadas em álbum.

Ainda hoje, temos acesso a alguns dos vetustos registros, mas muitos se perderam, por não terem recebido adequada atenção em tempo.

A produção de choro hoje é grande e crescente.

O gênero atrai cada vez mais público, e novos músicos, no Brasil e no exterior.

No exterior, há álbuns, de brasileiros e de grupos estrangeiros, disponíveis para venda e em rádios.

As apresentações no exterior se dão em clubes de jazz, festivais, convenções, casas de show ou mesmo em eventos privados.

No Brasil, ainda são poucos os clubes (entendido como casas de concertos abertos ao público) voltados exclusivamente para o gênero (como existem os clubes de jazz nos EUA).

As rodas de choro (encontros casuais de músicos e amantes do gênero) acontecem informalmente em lojas de instrumentos (raras, hoje) ou em ambientes privados de músicos e entusiastas.

Apresentações de instrumentistas de destaque acontecem em teatros e festivais do país, ou mesmo em ambientes menores como bares e casas de show.

 

Sobre a origem do Choro

No começo, por volta dos anos 1870’s, músicos brasileiros passaram a tocar seu repertório de polcas europeias (uma música dançante naquele tempo) de maneira mais lenta, mais emotiva.

Essas execuções foram ganhando características peculiares, muito diferente das composições originais e seus intérpretes passaram a compor músicas próprias.

Há diversas explicações para a origem do nome. Uma das possibilidades está na ligação com a palavra “chorar”, seja pela maneira “chorada”, sentimental de tocar, seja pela emoção transmitida por essa música.

A verdade é que, desde o início, o repertório de “choro” já contava com músicas alegres, outras sentimentais, românticas e melancólicas.

Outro aspecto interessante, observado em documentos e depoimentos antigos, é que essas novas composições, de características brasileiras surgiam por todo o país. Haviam músicos tocando e compondo, com algumas nuances, no nordeste, no sul e no sudeste.

Tecnicamente falando, os intérpretes e compositores do início do choro se utilizaram de inúmeras ferramentas musicais: ritmos, inflecções, andamentos, sincopado, improvisação,  etc. para extrair da música o máximo em expressão, de acordo com o sentimento que se queria transmitir.

Essas ferramentas se tornaram a marca registrada do estilo e, até hoje, são característica que identificam a autêntica música brasileira.

Músicos importantes desse primeiro momento são: Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, entre outros.

Na década de 1910, o flautista e compositor Pixinguinha, estabeleceu o que foi considerada a “forma definitiva” do choro como gênero.

Em relação às primeiras composições, a música adquiriu fluidez de melodia e ritmo.

Esse período foi riquíssimo em compositores e intérpretes, naturais de diversas regiões do Brasil: Garoto (São Paulo), Jacob do Bandolim (Rio de Janeiro), Zequinha de Abreu (São Paulo), Luiz Americano (Sergipe), Waldir Azevedo (Rio de Janeiro), Luperce Miranda (Pernambuco), João Pernambuco (Pernambuco), Amador Pinho (Sâo Paulo), Bonfiglio de Oliveira (São Paulo) etc.

O choro deu origem a diversos ritmos brasileiros como o samba, o forró, o frevo, o maxixe, a marcha de carnaval, valsa brasileira.

Na verdade, os compositores e intérpretes de choro, geralmente, compunham em todos esses ritmos, costume mantido entre os contemporâneos.

Além disso, fato desconhecido da maioria, o choro foi a base musical de grandes solistas e compositores eruditos e populares como Villa-Lobos, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Radamés Gnatalli etc.

 

Algumas particularidades técnicas

Arranjos, conjuntos e instrumentações

Os choros mais tradicionais têm 3 partes diferentes, mas choros de 2 partes são comuns. Usualmente cada parte tem 16 compassos, e as partes podem ser em diferentes tons. Os acordes têm, tradicionalmente, pouca ou nenhuma dissonância.

A harmonia e a melodia podem ser surpreendentes e cada parte pode modular bastante.

O andamento pode ser de muito rápido a muito lento e está relacionado a diferentes emoções.

Não há um estilo predominante, o choro pode ser romântico, dramático, brilhante, divertido, dançante etc.

O conjunto é tipicamente formado por instrumentos acústicos, são eles, afora o solista: violão 7 cordas, violão, cavaco e pandeiro. Para o solista o instrumento pode ser  bandolim, flauta, clarinete, acordeão, violão, etc.

Como em uma orquestra, cada músico tem um diferente papel no grupo e deve contribuir para o conjunto, compor um todo único, com a finalidade de contribuir para a beleza da música. Essa característica, muito observada em grupos antigos, é de suma importância para a qualidade da música e para o efeito final.

O individualismo e o imediatismo podem prejudicar a música.

Ritmo

O ritmo de um choro tradicional é 2/4.

Como o choro é a base de muitos ritmos brasileiros, eles se misturam e fazem parte do repertório de um  chorão, como o samba, o frevo, o forró, o maxixe, a polca, marcha de carnaval, etc.

Ritmos de outras regiões também foram moldados pelo choro e fazem parte desse repertório desde a origem do gênero: a valsa brasileira, a polca, a schottisch, o lundu, o tango brasileiro, etc.

Todos são expressões rítmicas brasileiras e mantêm diversas características do choro.

Melodia, contrapontos e improvisação

A melodia é, via de regra, longa e elaborada.

Por essa característica, a improvisação no choro tem um papel totalmente diferente da improvisação no jazz.

A improvisação é deixada para a repetição da parte, quando a versão original já fora tocada.

Além disso, ela não acontece, ou não deve acontecer, em toda execução; fica a critério do solista, se houver, no momento, inspiração e emoção a lhe impelir.

A riqueza das melodias no formato em que são compostas são suficientes e é importante o respeito ao compositor, que pode dedicar horas à colocação de cada nota, sendo fundamental a execução da peça original e secundária a improvisação, que pode não acontecer ou se limitar a uma pequena variação da melodia.

Virtuosismo

As peças de choro usualmente demandam muita técnica de seus intérpretes, não só em velocidade mas também em força, destreza etc.

Assim, apesar de não ser uma regra, seus solistas são reconhecidos pela sua virtuosidade.

É comum entre os músicos o entendimento de que aquele que toca choro pode tocar qualquer gênero.

A virtuosidade não deve ser entendida como mera destreza mecânica; seu uso deve ser entendido como um meio para transmitir emoção.